Cap. 2 – As
lágrimas de um palhaço.
Semanas
depois, eu fiquei imaginando aonde eu iria achar outra história tão boa como a
do Michael. Gostaria muito de encontrar uma pessoa que parecesse comum e que
tivesse algo de surpreendente atrás de seus olhos. No final de semana, eu fui convidado pela
minha sobrinha Sara, de cinco anos, a ir assistir ao espetáculo do circo que
tinha chegado à cidade. Achei aquilo um
tanto interessante, um circo ter chegando justamente naquele momento da minha
vida e resolvi imaginar que os bons ventos da sorte trouxeram mais essa idéia
para mim. O circo poderia ser um lugar bastante incomum para o meu dia-a-dia já
que raramente fui ao circo, e lá poderia haver pelo menos uma pessoa com uma
história interessante para contar.
A
magia no ambiente do circo, num bom circo de espetáculos é impressionante, não
é? Eu estava lá admirado com as apresentações. A ultima vez que tinha ido a uma
apresentação dessas tinha sido quando criança e isso já fazia muito tempo! Se
bem que costumo acreditar que de um jeito ou de outro a gente nunca deixa de
ser criança, pelo menos não todos.
O
que mais gostava era dos palhaços, essa habilidade de fazer as pessoas rir a
vontade e esquecerem pelo menos um pouco dos problemas e crueldades da vida
cotidiana. Eu notava a alegria brilhando nos olhos deles por trás da maquiagem
nas cenas cômicas que me faziam chorar de rir – é eu tenho que confessar, eles
eram realmente engraçados – se bem que bem no fim da apresentação eu pude
perceber que dos três palhaços presentes
no picadeiro, um, o mais velho por sinal, começou a derramar lágrimas pouco
antes de sair dali. Eu fiquei curioso e de certa maneira assustado por não
saber o que tinha acontecido e mais o que levaria a um palhaço normal chorar –
normal eu disse! - a gente as vezes se
esquece que os palhaços, são artistas, mas eles também são pessoas como nós,
que tem suas tristezas, suas desilusões, frustrações, tudo como uma pessoa humana comum. Eu resolvi deixar minha irmã e
sobrinha por um tempo para ir atrás da lona do circo e procurar pelos palhaços,
eu precisava saber o que tinha acontecido – quem sabe não encontraria uma boa
história ali pra ouvir?
-
Com licença, aonde eu posso encontrar os palhaços do circo, gostaria de falar
com eles. – perguntei a um vendedor de algodão doce – sou jornalista e to atrás
de uma boa história para ouvir e depois contar a meus leitores.
Ele
apenas apontou para um trailer que ficava um pouco afastado do local onde se
realizava os espetáculos, depois de agradecer, me dirigi até lá e bati na
porta.
Um
homem velho de cabelos brancos, com uma maquiagem de palhaço ainda no rosto
abriu a porta e pediu-me para entrar depois de eu me apresentar a ele. Fiquei
surpreso por aquele homem ser um dos palhaços que tinha visto há pouco na
apresentação do circo.
-
Perdoe-me o incomodo senhor... Eu sou um jornalista, trabalho no jornal local
da cidade e não pude deixar de perceber durante o fim da sua apresentação que o
senhor teria derramado lágrimas, acredito que não esteja enganado. Fiquei
curioso pelo fato de um palhaço que tanto sabe fazer as pessoas rirem, teria um
motivo pra chorar. E fiquei pensando se o senhor se importaria de contar sua
história pra mim, o motivo de suas lágrimas. Apenas se sentir a vontade para
isso, se não quiser não tem problema algum acredite. – ele ficou me ouvindo em
silêncio. Olhando para o espelho enquanto retirava sua maquiagem. Eu estava
sentando em sua cama, o trailer era pequeno não cabia muita coisa, mas tentei
ficar o mais a vontade possível.
-
Pessoas sofrem tanto na vida que quando riem por causa de palhaços que acabam
esquecendo-se de seus problemas e os problemas dos outros. Inclusive dos
próprios palhaços que não passam de pessoas tão comuns como os
espectadores. Que tem suas tristezas, e
sofrimentos causados pela vida. Eu por exemplo, estou cansando de chorar aqui
sozinho neste meu trailer vazio. A minha vida nunca foi fácil. Nasci numa
família pobre, sem condições nem de alimentar o próprio estomago. Cresci em
meio às ruas mendigando moedas para comprar alguma coisa para comer não só para
mim, mas para meus pais também. Quando não conseguia, roubava quem eu visse que
fosse fácil tirar algo rapidamente e sem correr o risco de ser pego. Roubava
para sobreviver, não por malicia nem ambição. Chegou um momento que não tive
escapatória e acabei sendo levado por policiais pra delegacia e de lá fui
mandando para um reformatório, por ainda ter 14 anos. Não durei muito tempo lá,
acabei desagradando alguns colegas por lá e eles me batiam com freqüência,
tentava ao Maximo fica no meu lugar, mas era quase impossível, quando eles não
tinham motivo, me batiam por diversão. Chegou certo momento que não agüentei e
acabei revidando erradamente, ou seja, acabou não dando certo, resolvi então
fugir de lá.
Não
sei se foi Deus, ou apenas um dia de sorte. Mas naquela mesma semana, um circo
tinha chegado à cidade depois de muito tempo fora. Eu tinha acabado de dobrar a
esquina da rua do reformatório e corria para o mais longe que eu pudesse para
que quando dessem por minha falta, não pudessem me alcançar. Estava nervoso,
pois não queriam que me pegassem e me fizessem voltar pra lá. Seria viver um
inferno novamente. Quando conseguir alcançar o centro da cidade, estava com
muita fome, cansando. Comecei a pedi comida nos bares e restaurantes próximos
ali de onde eu estava. Muitos me enxotavam com xingamentos e outros nem se quer
me olhavam direito. Resolvi me sentar um
pouco numa calçada em frente a um bar para descansar e depois ir atrás de
outros lugares onde pudesse achar alguém bondoso que pudesse me ofertar um
pouco de comida. Estava de cabeça baixa perdido em meus pensamentos, tentando
resolver o que faria a parti dali, quando olhei para frente e surpreendi-me com
um rapaz que aparentava ter quase 25 anos ou até mais vindo em minha direção.
-
Olá rapazinho. Está precisando de ajuda? – perguntou-me ele sorrindo
delicadamente para mim.
Eu
estava sem jeito, era a primeira vez que alguém notara minha presença
amavelmente falando.
-
Parece que sim, já que não consegue nem falar por si mesmo. É mudo? –
perguntou-me rindo.
Tentei
esconder minha timidez e responder a ele da melhor maneira que pude:
-
Não senhor.
-
Então refaço a pergunta que fiz primeiro: está precisando de ajuda? – disse ele
se sentando ao meu lado.
-
Sinceramente senhor, sim. Estou com muita fome, e não tenho para onde ir nem
onde ficar. Não sei o que fazer, estou
sem rumo. Eu só queria um lugar pra ficar e comida só isso não quero muito
sabe? Por que a vida é tão injusta com a gente senhor? Por quê? – acabei
desabafando com ele quase chorando.
Ele
humildemente colocou os braços em meu ombro. Fiquei surpreso com aquilo.
Ninguém nunca tinha feito aquilo, nunca comigo. Olhei-o com os olhos cheios
d’água e perguntei-me se era um anjo vindo do céu para consolar minhas
aflições. Quando fiz essa pergunta a ele, ele riu e disse:
-
Não rapazinho, sou apenas um simples palhaço. Que aprendeu a espantar suas
tristezas colocando sorriso no rosto das pessoas. E por isso você vai parar de
dizer senhor quando se referir a mim pode dizer apenas e simplesmente o meu
nome: Antonio Emanuel, ou só Antonio ou só Emanuel você escolhe. A propósito,
qual é mesmo o seu nome? – disse-me
colocando uma bola vermelha em seu nariz, e dando um grande sorriso com uma
careta engraçada.
Eu
ri. Tinha que admiti, ele era ficava muito engraçado fazendo aquela careta com
o nariz vermelho.
-
O meu nome é Domingues, é um enorme prazer em conhecê-lo Antonio! – disse-lhe
já que não poderia jamais esquecer minha educação e gentileza não é mesmo?
-
O prazer é todo meu Domingues. Ta vendo? Assim as coisas ficam bem melhores!
Nada como um belo sorriso, e isso você tem de sobra! Vamos, vou te levar para
comer, e te apresentar para meu patrão, eu acredito que você vai se dá bem
aonde eu trabalho. Isso se você quiser claro. – perguntou-me se levantando e me
olhando querendo saber minha resposta.
-
Seria maravilhoso Antonio. Ia realmente adorar, mas aonde você trabalha? –
perguntei levantando-me.
-
Ora mais! Aonde mais eu trabalhararia? Em um circo, ora bolas! – disse rindo e
começando a caminhar.
Eu
o segui rindo pelo meu momento de ingenuidade ou de leso mesmo.
No
caminho veio-me a curiosidade de saber o que um palhaço de circo estaria
fazendo numa rua como aquela, e resposta mais uma vez era óbvia de certa forma.
-
bom meu querido, apesar de trabalhar com um palhaço a noite, de dia eu sou uma
pessoa normal como qualquer outra né? Gosto de passear, comer, conhecer gente,
lugares novos. Por isso sempre que paramos em um lugar novo, na minha primeira
folga que tenho eu venho conhecer o centro da cidade. – disse ele enquanto nos sentávamos para
comer numa mesa de um restaurante simplesinho.
Quando
finalmente chegamos ao circo, pude perceber que era um circo de porte médio,
mas muito aconchegante eu senti, parecia uma volta para casa depois de muito
tempo, era isso que eu sentia mesmo não sabendo o porquê daquilo já que nunca
tinha ido a um circo antes na minha vida inteira. Antonio me levou logo a falar
com o dono do circo para apresentar-me a ele, e ver se me aceitaria como
morador e artista do circo.
-
O que você acha que ele poderia fazer aqui no circo? – perguntou a Antonio, o
dono do circo olhando para mim com um sorriso um tanto curioso. Ele era um
homem gordo, de poucos cabelos pretos e um bigode fino no rosto. Parecia ser
gente boa, a meu ver, mas não poderia saber a resposta até que convivesse com
ele o bastante, e só ele poderia dizer se isso ia acontecer (ou não!).
-
Bem Adolfo, você soube que o Afonso stá a fim de se aposentar e talvez fique só
na bilheteria como ele tem feito ultimamente. Ele não tem mais a condições de
apresentar os espetáculos como antes. E acho que o garoto pode ser um bom
aprendiz. Faço uma aposta nele. – disse Antonio olhando para mim e sorrindo
alegre.
Eu
fiquei calado ouvindo. Não queria estragar o grande favor que Antonio estava
fazendo por mim. Então só fiquei fazendo aquilo que eu sempre fazia: ficar
observando, quando fui surpreendido pelo Senhor Adolfo a se dirigir diretamente
para mim.
-
E você rapazinho, como é mesmo seu nome? – olhou para mim curiosamente.
Fiquei
um pouco nervoso, mas conseguir dizer meu nome.
-
Domingues é? Gostei de seu nome. – disse abrindo um grande sorriso e se
encostando à cadeira onde estava sentado – agora quero saber de você,
Domingues, o que acha, será que poderia ser um bom aprendiz e aprender a ser um
grande palhaço e seguir os passos do seu companheiro ai – disse olhando para
Antonio.
Eu
dei uma olhei nos olhos de Antonio e quando ele me sorriu, eu disse convicto:
-
Tenho certeza que sim! Farei o meu melhor Senhor Adolfo. Pode confiar!
-
Então vamos ver! Vou confiar em você e no meu velho amigo aqui, vamos ver do
que você é capaz! Por enquanto, seja muito bem vindo ao Grande Circo
Kabalahara! – disse abrindo um largo sorriso e com um brilho no olhar.
A
noite, fui convidado por Antonio, a assistir o espetáculo do circo de camarote
bem perto do palco, e eu fiquei muito agradecido. Seria a primeira vez que iria
assistir a uma apresentação de um circo e estava ansioso por assim dizer. Eu
fiquei realmente encantando com todos os espetáculos: malabaristas, mágicos,
trapezistas e é claro o que mais gostei: os palhaços. Fizeram-me rir como
nunca. E vi que realmente Antonio era um ótimo palhaço e que com isso era muito
bem visto por todos, amigos de circo e espectadores.
Eu
realmente fiquei feliz de ter encontrado alguém que se importasse comigo, e um
lugar onde fosse bem recebido. Com o passar do tempo, Antonio foi me ensinando
cada vez mais como ser um bom palhaço, de executar totalmente a Arte de Ser um
bom palhaço, a aprender a esconder toda tristeza, sofrimento, e usar isso em
riso, e fazer os outros rirem e você rir também.
-
Com o passar do tempo você vai se aprimorando, vai conseguindo utilizar a
tristeza em seu peito e transformá-la em algo engraçado para fazer rir. Quando
a dor se aproxima de nós, e rimos em vez de chorar, ela se ameniza e até mesmo
nem surte efeito em nós. As coisas ficam mais fácies, melhores. – disse-me ele
uma vez em um ensaio no picadeiro.
Foi
algo que nunca esqueci, e sempre lembrava quando ele me ensinava uns truques de
improviso e quando eu ensaiava com ele cenas das apresentações. Eu quando não
estava fazendo isso, eu ajudava na limpeza e arrumação dos espetáculos do circo
quando era necessário. Fui ganhando cada vez mais a confiança do senhor Adolfo
e do resto dos artistas do circo e o direito de ficar com eles.
Eu
dormia no trailer de Antonio, era pequeno para nós dois, mas era confortável,
agradecia imensamente tudo o que Antonio tinha feito por mim até ali. Ele era
pra mim um irmão mais velho que nunca tive. Toda noite, deitado num colchão no
chão do trailer ficava a ouvir sempre Antonio ouvindo e cantando músicas
francesas que ele gostava tanto, sempre me dizia que as músicas francesas eram
júbilos de amor só pela pronuncia de suas palavras e que encantavam a alma dele
totalmente e o fazia agradecer por viver e ter a oportunidade de poder ouvir
essas músicas. Era agradável ver e ouvi-lo cantando, não só porque ele tinha
uma boa voz, mas pela oportunidade de vê-lo feliz com alguma coisa. Gostava de
muito de sua companhia, aprendia muito sempre que conversávamos. Todo dia
sentávamos nos degraus do trailer para tomar uma xícara de café bem quente,
coisa que ele adorava tanto quanto as músicas francesas. Curioso em saber a sua
história, indaguei-o a perguntar como ele tinha vindo parar ali, e fiquei
surpreso com sua resposta.
-
Eu era assim como você Domingues, um órfão sozinho nas ruas dependendo das
esmolas e caridades dos que passavam a minha volta, até que um belo dia eu me
deparei com o Adolfo. Ele me trouxe para cá e me ensinou tudo o que eu sei.
Mais isso foi há muito tempo. Naquele dia que encontrei você, estava saindo de
um bar, quando vi você sentado no parapeito da calçada. Vi em você, em seus
olhos, o mesmo menininho solitário dependente de ajuda que eu havia sido anos
atrás. Por isso não hesitei de ir ao seu encontro ver uma forma de te ajudar.
Somos mais parecidos do que você imaginava não? – perguntou-me dando um sorriso
e bebendo um gole de seu café.
Eu
o olhei admirado. Cada dia ele me mostrava mais um pouco do que ele realmente
era. E eu só conseguia gostar cada vez mais dele e querer ser assim um
dia. Era uma pessoa admirável e com
certeza tínhamos mais em comum do que achava, ele sempre estava certo. Íamos tornando
cada vez mais próximos e amigos um do outro e eu gostava muito disso, nunca
tinha tido um amigo assim, verdadeiro. Já estava ali há vários meses e esperava
que ficasse ali para sempre.
Quando
completou um ano desde a minha chegada, Antonio e o senhor Adolfo finalmente
concordaram e programar a minha estréia como palhaço no circo. Eu estava
nervoso e ansioso, apesar de ter aprendido muito com meu professor de
palhaçadas, e ter conseguido feito um bom ensaio na frente do senhor Adolfo e
do resto do pessoal do circo, e eles terem gostado da minha atuação ao lado de
Antonio e os outros palhaços.
-
Vai dá tudo certo cara, se preocupa não! Confio na sua capacidade, você deveria
confiar em você mesmo também. – disse-me Antonio quando nos preparávamos para
dormi um dia antes da minha estréia sempre com aquele sorriso marcante de sua
admirável personalidade.
Ele
confiava em mim. Todos confiavam em mim, era preciso que eu confiasse em mim
também. Precisava fazer jus ao julgamento deles e fazer tudo isso que aconteceu
comigo valer a pena. Ia dar o meu melhor na noite de estréia.
A
noite da estréia foi um sucesso, correu tudo bem, tudo como tínhamos
programado, a não ser por um único detalhe. Antes de Antonio e eu irmos ao
camarim nos prepararmos para o espetáculo, tínhamos resolvidos tomar um pouco
de café para esquentar o organismo já que estava fazendo frio naquela noite. O
café foi feito por minha conta, naquele dia pois Antonio estava ocupado
arrumando as fantasias do palhaço. Infelizmente naquela noite, estávamos
apressados e nervosos por causa da estréia e eu acabei esquecendo de desligar o
botão do botijão de gás. Um amigo nosso, o vigia que ficava rodando os trailers
enquanto nos apresentávamos por precaução de roubos, tinha resolvido parar
naquela noite perto do nosso para fumar um pouco. Naquela hora o gás já invadia todo o trailer
e ao redor, mas o Cláudio, o vigia não tinha sentido ainda, e jogou o toco do
cigarro ainda acesso ao lado do trailer e ouve uma explosão e o trailer ficou
peando fogo. Todos ficaram assustados. Era um corre corre e um Deus nos acuda.
Antonio ficou muito apreensivo quando ouviu o barulho e correu em direção ao
trailer que morávamos. Eu fui atrás dele.
Tentei pará-lo junto com outros artistas do circo quando vi o fogaréu no
trailer e o Cláudio gritando. Eu fiquei paralisado, não esperava que aquilo
acontecesse logo naquela noite, uma noite de estréia. Antonio, foi pra cima de
Cláudio e tentou retira-lo do fogo mas foi em vão. Acabou que o fogo começou a
se espalhar pelo gramado e atingiu outros locais do circo. Tivemos que sair
dali as pressas, sem poder impedir Antonio e sua tentativa de heroísmo de
salvar Cláudio e os dois acabaram se perdendo nas chamas.
Quando
os bombeiros chegaram já era tarde demais, Cláudio e Antonio morreram
carbonizados naquela noite. E mais uma vez a vida me tirava a alegria que ela
tinha me dado. Mais uma vez eu tinha ficado sozinho, tinha se afastado de mim
uma pessoa importante. Foi uma das piores noites da minha vida, chorei muito
nela. Mas graças a Antonio, tive o consolo da minha nova família, os artistas
do circo e principalmente um novo pai que tinha ganhado: o senhor Adolfo.
“Depois
daquela noite, o senhor Adolfo, o dono do circo teve que refazer e cortas
muitos custos para tentar recuperar o que tinha perdido materialmente. Passamos
um bom tempo trabalhando na reconstrução do circo e dos espetáculos. A perda de
Antonio tinha sido grande não só para o circo, mas para todos nós. Senhor
Adolfo, me manteve sobre sua guarda com carinho, e continuou a me ensinar tudo
o que Antonio não pode. Sempre guardo a lembrança de tudo que Antonio me
ensinou até hoje, mesmo depois de tantos anos. Era algo que não podia deixar de
lembrar, principalmente hoje. Por isso eu não deixei de derramar algumas
lágrimas no fim do espetáculo. Hoje faz exatamente 30 anos que aconteceu aquele
incêndio, mesmo depois da morte do Senhor Adolfo, que deixou confiado a mim a
administração do circo, eu não pude deixar de fazer essa homenagem a ele,
Antonio, por tudo que ele fez por mim, ter me dado um lar, uma família, e um
sentido para viver.”
Eu
não pude conter as lágrimas, juro. Era uma das histórias mais bonitas que
alguém até ali tinha me contado. Fiquei muito feliz de poder ouvir aquilo e
comentei isso com ele.
-
Essa é a minha homenagem a ele, para que não só eu, mas muitos não possam
esquecer o admirável Antonio. Publique essa história, eu lhe peço, e faz isso
se tornar uma boa lembrança na mente das pessoas. – disse-me com lágrimas nos
olhos.
Eu
podia ver nos olhos dele, que aquele garotinho da história ainda era muito vivo
dentro daquele senhor que estava na minha frente. Eu prometi e ia cumprir a
minha promessa. Quando me despedi dele e voltei ao encontro de minha irmã e de
minha sobrinha, estava sorridente e com um brilho no olhar e elas notaram isso.
Eu disse que logo logo ela iam saber o porque daquilo. Na mesma semana,
publiquei a história no jornal. E como era justo, teve uma boa
repercussão.